Aprenda com o silêncio a ouvir os sons
interiores da sua alma, a calar-se nas discussões e assim evitar
tragédias e desafetos. Aprenda com o silêncio a aceitar alguns fatos que
você provocou, a ser humilde deixando o orgulho gritar lá fora, a
evitar reclamações vazias e sem sentido. Aprenda com o silêncio a
reparar nas coisas mais simples, valorizar o que é belo, ouvir o que faz
algum sentido.
Aprenda com o silêncio que a solidão não é
o pior castigo, existem companhias bem piores. Aprenda com o silêncio
que a vida é boa, que nós só precisamos olhar para o lado certo, ouvir a
música certa, ler o livro certo.
Aprenda com o silêncio que tudo tem um
ciclo, como as marés que insistem em ir e voltar, os pássaros que migram
e voltam ao mesmo lugar. Como a Terra que faz a volta completa sobre o
seu próprio eixo, complete a sua tarefa.
Aprenda com o silêncio a respeitar a sua
vida, valorizar o seu dia, enxergar em você as qualidades que você
possui, equilibrar os defeitos que você tem e sabe que precisa corrigir,
e enxergar aqueles que você ainda não descobriu. Aprenda com o silêncio
a relaxar, mesmo no pior trânsito, na maior das cobranças, na briga
mais acalorada, na discussão entre familiares.
Aprenda com o silêncio a respeitar o seu
“eu”, a valorizar o ser humano que você é, a respeitar o Templo que é o
seu corpo, e o Santuário que é a sua vida. Aprenda hoje com o silêncio,
que gritar não traz respeito, que ouvir ainda é melhor que muito falar.
Na natureza tudo acontece com poder e silêncio, com um silêncio
poderoso; por vezes, o silêncio é confundido com fraqueza, apatia ou
indiferença. Pensa-se que a pessoa portadora dessa virtude está impedida
de reclamar seus direitos e deve tolerar com passividade todos os
abusos.
Acredita-se que o silêncio não combina
com o poder, pois este tem-se confundido com prepotência e violência.
Sempre que a palavra poder lhe vier à mente, lembre-se do Sol que nasce e
se põe em profunda quietude; move gigantescos sistemas planetários, mas
penetra suavemente pela vidraça de uma janela sem a quebrar.
Acaricia as pétalas de uma rosa sem a
ferir, e beija as faces de uma criança adormecida sem a acordar; vamos
encontrar na natureza lições preciosas a nos dizer que o verdadeiro
poder anda de mãos dadas com a quietude. As estrelas e galáxias
descrevem as suas órbitas com estupenda velocidade pelas vias
inexploradas do cosmos, mas nunca deram sinal da sua presença pelo mais
leve ruído.
O oxigênio, poderoso mantenedor da vida,
penetra em nossos pulmões, circula discreto pelo nosso corpo, e nem lhe
notamos a presença. A luz, a vida e o espírito, os maiores poderes do
universo, atuam com a suavidade de uma aparente ausência. Como nos
domínios da natureza, o verdadeiro poder do homem não consiste em atos
de violência física.
Quando um homem conquista o verdadeiro
poder, toda a antiga violência acaba em benevolência. A violência é
sinal de fraqueza, a benevolência é indício de poder. Os grandes mestres
sabem ser severos e rigorosos sem renegarem a mais perfeita quietude e
benevolência.
Deus, que é o supremo poder, age com
tamanha quietude que a maioria dos homens nem percebe a Sua ação. Essa
poderosa força, na qual todos estamos mergulhados, mantém o Universo em
movimento, faz pulsar o coração dos pássaros, dos bandidos e dos homens
de bem, na mais perfeita leveza. Até mesmo a morte chega de mansinho e,
como hábil cirurgiã, rompe os laços que prendem a alma ao corpo,
libertando-a do cativeiro físico.
O verdadeiro poder chega: sem ruído, sem
alarde e sem violência. “Bem aventurados os mansos, porque eles
possuirão a Terra”. “Boa Terra em teus pés, Água o bastante em tua
semente, bom Vento para o teu sopro, Fogo em teu coração e muito Amor em
teu ser”.
“O êxito ou o fracasso de sua vida não
depende de quanta força você põe em uma tentativa, mas da persistência
no que fizer.” E em respeito a você, eu me calo, me silencio, para que
você possa ouvir o seu interior que quer lhe falar, desejar-lhe uma vida
vitoriosa. Desejo Paz e Silêncio para você.
Jean-Yves Leloup