terça-feira, 29 de outubro de 2013

chantagem emocional

Chama-se chantagem emocional ou chantagem psicológica quando determinadas pessoas próximas de si a sujeitam a ameaças, caso não ceda, deve pôr fim a essas relações doentias. Para desactivá-las, quando tentam manipular-nos devemos repetir para nós próprios: “Vou ser capaz!”
As pessoas chantagistas afectivas são lobos com pele de cordeiro que parecem inofensivas e feridas, quando, na verdade, constituem uma ameaça: recorrem ao medo, ao sentido do dever e ao sentimento de culpa para conseguirem o que querem, negando aos outros o direito de escolha. Quando alcançam os objectivos rodeiam-nos de uma reconfortante intimidade; quando não o conseguem recorrem às mais variadas tácticas.
Conhecem os nossos pontos vulneráveis e secretos e sabem o valor que damos ao nosso relacionamento com eles. Existem na família, no trabalho ou no universo dos amigos. Podem ser o nosso parceiro, um filho, o chefe ou um amante. Parecem preocupar-se connosco; na realidade aproveitam-se da sua proximidade para obter o que querem: submeter-nos.
Uma forma de manipulação
Cada vez que caímos na sua rede, renunciando ao que queremos para os satisfazer, diminui a nossa auto-estima e aumenta o nosso mal estar: concluímos que perdemos de novo, que cedemos sempre, que somos incapazes de decidir em conformidade com o que sentimos, que a nossa opinião não conta, que a nossa posição nunca é aceite. Por estas razões, libertarmo-nos quanto antes da sua teia afectiva é o que devemos fazer.
A chantagem afectiva desequilibra-nos, envergonha-nos e faz-nos sentir culpados; dizemo-nos vezes sem conta que devíamos mudar a situação mas acabamos ultrapassados pelos acontecimentos; duvidamos das promessas que fazemos a nós próprios e perdemos autoconfiança. Pomos em causa os nossos valores. Deteriora-se a nossa integridade interior.
O chantagista recorre ao medo, ao sentido do dever e à culpa como instrumentos para nos obrigar a ceder; faz-nos temer as consequências de lutarmos pelos nossos desejos, sentir que estamos obrigados a satisfazê-loos que os remorsos serão enormes se não capitularmos.
Para o doutor Francisco Alonso Fernández, catedrático de Psicologia da Universidade Complutense de Madrid, “a chantagem ou manipulação emocional é um recurso para sair das situações difíceis, empregue por quem é mais débil ou está numa situação mais frágil ou vulnerável”. E acrescenta: “Pode ser legítima, enquanto meio para conseguir um fim moral, como no caso da mulher que tenta modificar o comportamento do seu marido, dizendo-lhe que se não deixa de beber sairá de casa.”

Naufrágio sentimental
Outras vezes é claramente imoral, como no caso da pessoa desesperada que tenta explorar ou mobilizar os sentimentos do outro para que este se lhe dedique ou quando se trata de salvar uma relação sentimental do naufrágio.
“A chantagem converte-se numa armadilha para o chantagista, se este a emprega sistematicamente quando se encontra numa situação, baixa auto-estima ou auto-compaixão”, assinala o especialista espanhol. E especifica: “O chantagista torna-se servidor dos outros; coloca-se numa posição pouco cómoda, desvantajosa, de dependência afectiva, ao mendigar o afecto e carinho dos outros, convertendo-se em subordinado ou escravo das emoções alheias”, explica, a chantagem não funciona sem a nossa ajuda: é uma transacção.
Todos nós incorporamos nas nossas relações uma série de pontos fracos que doem quando são tocados: ressentimentos, pesares, inseguranças, medos e cóleras. A chantagem só se produz quando os damos a conhecer, reagindo como um peixe que morde o anzol.
Ao capitular perante o chantagista ensinamo-lo a manipularmo-nos; o nosso assentimento é a sua recompensa, e cada vez que o gratificamos com uma acção determinada, fazêmo-lo saber que pode tentar de novo.
Aplicada correctamente, uma frase curta converte-se numa arma poderosa, contrariando aquilo que nos leva a dizer sim ao chantagista: a ideia de que não se aguenta a pressão. Para manter a nossa inflexibilidade quando um chantagista emocional aumenta a pressão para que cedamos, devemos repetir para nós próprios: “Consigo aguentar.”




A convicção de que não podemos suportar (ferir os seus sentimentos, que me diga estas coisas, a culpa, a ansiedade, que chore, a sua ira) é a armadilha fundamental em que se alicerça a chantagem.

Ganhar tempo
Quando alguém sente que se afunda perante a pressão, a primeira coisa que deve fazer é: nada. É necessário tempo para pensar, fortalecer-se e preparar-se.
Para ganhar tempo e acalmar os ânimos temos de aprender algumas respostas-chave como: “Não posso responder neste momento, necessito tempo para pensar”; “É demasiado importante para decidir agora, logo te responderei”; “Não estou disposta a tomar uma decisão neste momento”; ou “Não estou segura do que me pedes; falaremos mais tarde”.
Quanto mais profunda é a questão, mais tempo é necessário: temos que fazer ver ao chantagista que, no mínimo, uma pessoa precisa de 24 horas para decidir sobre questões simples e de todo o tempo que julgue necessário quando se tratam de questões fundamentais.
Para analisar objectivamente o que nos pedem e decidir se queremos responder afirmativamente ou não, devemos esclarecer a nós próprios: “Existe algo no pedido que me incomoda: do que se trata? O que é que me parece aceitável e o que é que não é aceitável? O que me pedem causar-me-á danos, a mim ou a terceiros? O que me pedem tem em consideração os meus desejos e sentimentos? Existe alguma coisa no que me solicitam que me faça sentir atemorizado, obrigado ou culpado? O que significa para mim?”
Pode-se responder pela afirmativa, em consciência, se depois de analisar a questão se conclui que esta não tem nenhum impacto negativo e não obedece a nenhum padrão habitual de chantagem: não cedemos porque o contrário nos traria aborrecimentos, não nos causa danos, faz parte das cedências inevitáveis a uma boa relação e é uma expressão de generosidade.
Outra táctica consiste em abordar o chantagista com curiosidade e vontade de aprender, tentando assim modificar o tom de um diálogo que começa a deteriorar-se e a converter-se numa guerra ofensiva e defensiva.
3 Perguntas a Manuela Cruz, Psicóloga Clínica


Qualquer um de nós pode, por vezes, configurar um chantagista emocional?

A chantagem está muitas vezes ligada ao afecto e à manipulação afectiva. Todos nós, algum dia, ao sentirmo-nos mais frágeis e inseguros fizemos chantagem emocional. Desde as crianças que dizem que os pais não gostam delas quando não lhes dão o que pedem, aos pais que usam os afectos para obrigarem os filhos a desempenharem algumas tarefas.
Estas reacções, quando pontuais, embora pouco saudáveis, não são de grande gravidade. É grave quando as pessoas só sabem viver fazendo chantagem e dominando os outros pelo medo, explorando as suas fragilidades e prejudicando a sua vida. Os chantagistas emocionais muito embora dominem os outros são, normalmente, pessoas frágeis, inseguras e ansiosas, que usam outras ainda mais frágeis e inseguras e com baixa auto-estima para poderem dominar e mantê-las por perto.

É uma tendência de carácter ou uma patologia?

Pode ser uma e outra coisa. Mais uma vez tem a ver com a gravidade. Há pessoas que vivem permanentemente a chantagiar os outros e podem ser perigosas. Têm relações doentias e podem usar a agressão física e psicológica para obterem ganhos.
São normalmente pessoas com problemas relacionais e emocionais. Usam e submetem as pessoas pelo medo. Oscilam as suas relações entre períodos em que aparentemente dão muito afecto e períodos em que os reclamam, o que confunde mais as suas vítimas. Criam verdadeiras teias afectivas em que as vítimas se culpabilizam, fragilizam e acabam por pensar que elas é que não prestam e são as culpadas da infelicidade do mundo.

É mais preponderante em algum dos sexos?

Ambos os sexos usam a chantagem emocional. Contudo, os homens podem ser mais agressivos e mais violentos nas suas chantagens uma vez que, normalmente, são fisicamente mais fortes. As mulheres, porque mais frágeis, desprotegidas e mais apaixonadas são, normalmente, mais fáceis de chantagiar.

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