terça-feira, 14 de abril de 2015

NÃO ADIANTA FUGIR, NEM MENTIR PRA SI MESMO



Esta é a minha frase favorita da letra de Nelson Motta na música composta por Lulu Santos “Como uma Onda”. Usando a metáfora das ondas no mar, a música fala sobre a mudança constante que vivemos, mostrando como nada é permanente. Nesta frase, ela nos lembra do medo que temos das mudanças dizendo que não adianta tentar se esquivar e acrescenta que “agora há tanta vida lá fora, aqui dentro, sempre, como uma onda no mar”.

Esta feliz associação da impermanência com a vida em sua plenitude, desafia nosso medo e nossa tentativa ilusória de manter as coisas como se elas não fossem mudar, e também nos mostra que este movimento de constante mudança é a própria beleza da vida.

Talvez gostaríamos que a vida fosse como aquelas estórias que nos contavam quando éramos crianças que terminavam em “e foram felizes para sempre”. Mas as coisas não são assim. E se formos observar o desenrolar de tudo que vivemos, veremos que quanto mais nos apegamos a esta falsa noção de felicidade e segurança mais criamos as condições para sofrermos.

“Não adianta fugir, nem mentir”. A mudança é a realidade de nossas vidas e não aceitar este fato é perder a oportunidade de ver que “há tanta vida lá fora, aqui dentro, sempre”. Mudança é vida mesmo quando ela implica em profundas perdas que nos chegam, até mesmo, como morte. Vivemos nesta contínua experiência de nascer e morrer a cada instante, na maioria das vezes suave e invisível, mas em outras tremendamente forte e chocante. Se conseguirmos nos familiarizar previamente e compreender esta realidade, poderemos lidar com as mudanças de forma mais lúcida, menos sofredora e diria até que vibrante.

Na verdade, não é difícil entender que as coisas mudam. O problema começa quando não queremos permitir as mudanças das coisas e procuramos fazer com que as situações sigam segundo nossos desejos. Esta dificuldade surge porque não realizamos emocionalmente a sabedoria da impermanência. E o que nos impede disto é o apego emocional. Para lidar com este apego é preciso um trabalho maior consigo mesmo, onde o nosso entendimento intelectual da impermanência penetre cada vez mais nossas experiências emocionais. Com a devida prática podemos alcançar uma tremenda liberdade diante das mudanças, não resistindo mais aos movimentos da vida, assim como um surfista que ganha a habilidade (e a alegria) de surfar uma grande onda, dançando no seu movimento, mesmo com todos os riscos que isto implica.

O primeiro passo para desenvolver esta habilidade emocional é não negar a impermanência, não tentar colocar ela debaixo do tapete e olhar para o outro lado. Muito pelo contrário, devemos contemplar a impermanência nas menores coisas possíveis e nos familiarizar com sua realidade permeando tudo a todo instante. Quanto mais nos familiarizarmos com este processo mais saberemos nos tornar destemidos e tranquilos com todas as mudanças que podemos passar.
Você pode perguntar se tem que fazer isso até mesmo com as coisas boas que está vivendo. E eu diria que principalmente com elas. São as situações boas que vivenciamos sem a sabedoria da impermanência que nos causam sofrimento quando elas acabam. Contemplar a impermanência nos faz perceber que toda esta solidez e realidade que damos às coisas e às experiências não têm fundamento. Tudo neste mundo como objetos, pessoas, sentimentos e pensamentos são fenômenos que surgem, ficam por um tempo e, depois, desaparecem. E não é muito inteligente colocar nossa confiança e suporte em coisas assim.

Pode parecer desalentador perceber isso e podemos achar que pensar desta forma vai nos tirar o prazer de viver. Mas, por exemplo, nós nos dispomos a ir ao cinema e nos emocionarmos com as alegrias, tristezas, excitações e tensões de um filme, sabendo que aquilo é apenas um filme e mesmo assim não deixamos de sentir estas emoções. E nós nos permitimos vivenciar isto porque nossa base existencial não está fundamentada no que se passa na tela, sabemos que aquilo não tem realidade e que não pode nos afetar verdadeiramente. E, cientes disso, além de nos divertirmos bastante, muitas vezes, após o filme ainda nos vemos profundamente influenciados pelo que assistimos.
Na medida em que contemplamos e meditamos na impermanência podemos descobrir que em meio a todo este movimento e instabilidade, há algo que está sempre presente: a lucidez de nossa mente livre. Quando libertamos nossa mente das ilusões sobre a realidade das coisas, descobrimos esta lucidez que explora destemidamente todo tipo de experiência.
Sem esta lucidez somos como um passarinho que vive numa gaiola com a porta aberta e que, por medo, não consegue sair. Sem esta lucidez somos como alguém que esqueceu que entrou numa sala de cinema e está apenas vendo um filme. E que, ao se identificar com a estória, os personagens e o ambiente do filme, acaba aprisionado pelas suas emoções diante dos acontecimentos que surgem da mágica exibição de luz e sombra, achando que esta é sua única realidade.

ALEXANDRE SAIORO ministra para grupos e empresas o Programa de Redução do Estresse - A Arte do Estresse - baseado em metodologias utilizadas na área de desenvolvimento humano e organizacional e em métodos de meditação e contemplação da tradição budista.

 http://a-arte-do-estresse.blogspot.com/

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